Utilidade Pública

Hospital Cosme e Damião é referência em atendimento de crianças vítimas de abusos sexuais e maus tratos; em 2022 foram registrados 116 casos

Por jornalismo Omadeira

Em Porto Velho – capital de Rondônia, está localizado o Hospital Cosme e Damião (HICD), que é referência em atendimento infantil. A unidade hospitalar é vista como uma das principais e mais importantes da região norte no cuidado e acolhimento de crianças vítimas de maus tratos, abusos sexuais, violência doméstica, entre outros.

“No ano passado — 2022, o número de crianças que sofreram violência sexual e doméstica (negligência ) chegou a 116 casos, neste ano — 2023, foram registrados 76 ocorrências até o momento. Sérgio Pereira, diretor da unidade explica que: “o ideal é que nenhuma criança sofresse nenhum tipo de violência, porém, infelizmente, acontecem e temos de acolher da melhor forma. Essas crianças chegam a nossa unidade de saúde e tomamos todas as providências dentro da lei, em um atendimento humanizado, evitando assim, a exposição de todas as vítimas atendidas pelos profissionais”.

Pereira explica que o hospital infantil Cosme e Damião é uma unidade referência no atendimento e acolhimento de criança vítimas de violência sexual, doméstica e todo tipo de negligência que atinja a criança na faixa etária de 0 a 12 anos. “Então, essa criança é acolhida aqui por todos nós, ela passa por atendimento de uma equipe multidisciplinar (médicos, profissionais da enfermagem, psicólogos, fisioterapeuta e assistentes sociais) para que a gente possa criar essa proteção. Obviamente, nosso hospital é apenas um ente de uma grande rede de proteção disponível em todo estado”, disse.

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Sérgio Pereira — Diretor do hospital Cosme e Damião em Porto Velho

Hérika Lima Fontinele — assistente social do HICD, revela os cuidados que todos os profissionais da unidade tem em cada atendimento: “toda criança vítima de violência ou com suspeita ela deve ser ouvida, assim como a família. Nós enquanto profissionais temos de ter um olhar a mais para perceber que por trás do atendimento imediato podem ter outras situações. O Serviço Social dentro de nossa unidade é muito importante porque, as vezes, a mãe não verbaliza todos detalhes no atendimento médico inicial. Nesse caso é na escuta ativa durante a entrevista social que iremos identificar que a criança já sofre violência há bastante tempo e mantinha o silêncio”.


Nesse contexto foi criado o ‘protocolo de violência de suspeita’, pois os profissionais não tem caráter investigativo de violência sexual de crianças e adolescentes. O protocolo consiste, por exemplo em: quando a criança chega ao hospital (com a mãe, pai, conselho tutelar, polícia ou qualquer outra pessoa), com suspeita de algum tipo de violência é feito o acolhimento humanizado, o atendimento, a anamnese para entender todo caso e, posteriormente, será encaminhado para o parecer do assistente social e psicólogo.

“Nessas situações, a criança já é internada para verificar todas as possibilidades. O profissional do serviço social já faz a entrevista primeiramente com o familiar (mãe ou pai) para tentar entender e conhecer a realidade socioeconômica ou até mesmo se a mãe, por exemplo, sofre ou sofreu violência doméstica. Portanto é nessa escuta que orientamos a família como funciona o protocolo de atendimento, esclarece Fontinele.

Assistentes sociais do HICD — Hérika Fontinele e Danielle Neves, respectivamente.


Fato também importante é que se caso haja recusa por parte dos parentes de fazer a denúncia, os profissionais do hospital Cosme e Damião tem obrigação , por lei, de fazê-la . O caso é registrado no Departamento de Polícia da Criança e Adolescente (DEPCA) da capital.

“Normalmente quando a mãe vem em busca de atendimento médico e não fez a denúncia à polícia, nós orientamos e acompanhamos o boletim de ocorrência no DEPCA e, com autorização da autoridade policial (delegado de polícia), encaminhamos ao IML para fazer o corpo de delito. A partir daí, nós (assistentes sociais e psicólogos), fazemos um relatório e encaminhamos ao conselho tutelar para acompanhar o caso após a criança receber alta”, ressalta Danielle Neves, também assistente social do HICD.

O hospital conta com um Núcleo de Educação Permanente (NEP) responsável pela capacitação contínua de todo corpo clínico. “Nossas equipes contam com treinamentos específicos para ter esse olhar a mais e ficarem atentos porque, as vezes, é um detalhe pequeno que pode passar despercebido e essa criança pode continuar a sofrer maus tratos ou abusos que, futuramente, pode se tornar algo mais grave. O importante é a saúde física e mental dessa criança, então, em alguns casos, pode não ser abuso ou maus tratos e podemos ‘pecar’ por excesso e nunca por omissão nossa. Caso tenha alguma suspeita nós internamos para averiguar o fato, porque é nosso dever. Em caso mais complexos, a equipe multidisciplinar leva a família em casa e aproveita para conhecer o ambiente familiar e saber em que circunstância essa família vive”, esclarece o diretor.

Os profissionais relembram um caso de uma criança chegou com escabiose ( sarna) e infestada de piolhos. Ao verificar que havia mais 7 irmãos com o mesmo problema na casa, então foi necessário fechar uma enfermaria para tratar a todos. Típico caso de negligência. “nesse caso, além do atendimento dessas crianças, foi necessário orientar a mãe sobre os cuidados e tratamento”, relata Fontinele.


E fazem um alerta para a mudança de comportamento: “Muitas vezes a mãe não traz a criança por medo, negligência ou outro motivo. Nesse caso já acionamos o Ministério público ou conselho tutelar. Os pais devem ficar atentos ao comportamento de seus filhos. Em boa parte dos casos, a criança fica mais introspectiva, tem queda de rendimento na escola ou baixa autoestima”, diz Danielle Neves.

Vale salientar que é muito importante sensibilizar a família, a escola e a comunidade para que tomem medidas de detecção de vítimas de abusos e exploração sexual e denunciem . “Se você sabe e não denuncia está sendo conivente. Proteger a criança é uma responsabilidade de toda sociedade. Com essa atitude podemos evitar uma tragédia, uma frustração ou trauma que a violência, sobretudo a sexual, deixa marcas para o resto da vida. E vale ressaltar que não é somente a figura masculina que pratica abusos, mas também, infelizmente, há mulheres que cometem — principalmente, quando a criança sinaliza que está sendo violentada e a mãe, em alguns casos, não acredita e repreende, nessa situação ela também comete abuso psicológico”, afirma Hérika Lima Fontinele.

Familiares e conhecidos são responsáveis por 68% dos casos de violência sexual contra crianças de 0 a 9 anos no Brasil. Entre as vítimas de 10 a 19 anos, o crime é cometido por pessoas próximas em 58,4% dos casos. Entre 2015 e 2021, o país registrou mais de 200 mil casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes.

Foram notificados mais de 83 mil episódios entre crianças e mais de 119 mil atos violentos contra adolescentes, totalizando 202.948 casos. Em 2021, o número de notificações foi o maior registrado ao longo do período analisado, com 35.196 casos. Os dados são do Ministério da Saúde.

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